domingo, 25 de agosto de 2013

Trabalho






Eu cobiço o emprego dos outros. Não cobiço grandes cargos nem grandes salários. Cobiço o emprego, a rotina de acordar de manhã, ter um compromisso digno, ganhar dinheiro ao fim do mês pra se sustentar e à sua família.
Nunca me faltou nada, talvez este seja o meu problema. Me falta gana, me falta ambição e talvez ânimo. Me falta coragem de colocar a cara, por achar que a minha cara não vai agradar, não vai ser suficiente e que eu nunca, nunca sei nada.
Vivo uma dicotomia. Todos ao meu redor me vêem capaz, inteligente e competente. Eu finjo que acredito, e no fundo penso: “Como posso conseguir enganar tão bem essas pessoas? De onde vem toda essa confiança que eu não reconheço em mim?”
Baixa auto-estima, pode-se pensar. Realmente essa é uma sombra que me acompanha a vida toda e que me faz, hoje, aos 32 anos, não ter um emprego e poucas vezes ter tido.
Não trabalhei na adolescência, não trabalhei na faculdade e quando comecei a trabalhar, parei para cuidar do meu bebê. Mas tá difícil cuidar do meu bebê sem me sentir completa, sem me sentir útil, sem ter uma vida. Quero dar a ela bons exemplos mas, principalmente, o exemplo de felicidade, e esse tá difícil....
Quero ensinar a ela, que escolhendo o caminho que for, estando ciente das consequências, o importante é se sentir feliz. Como ensinar isso se eu não sei?
Não nasci para ser dona-de-casa. Me frustro, me canso, me sinto vazia, fútil e inútil. Nada contra quem é feliz assim, aliás, se minha filha for feliz assim, eu estarei ao seu lado! Mas pra mim, não dá, não dá e não dá. Sinto minha cabeça encolher, sinto o meu corpo rodar, no mesmo ciclo, todos os dias, sem chegar a qualquer lugar.
Nada me gratifica mais do que me empenhar em algo, me esforçar, ajudar, trabalhar. Aquela sensação de dever cumprido junto com todo aquele cansaço. Adoro rotina! Acordar a mesma hora, fazer as mesmas coisas todos os dias, e reclamar disso. Fugir de vez em quando por que eu mereço e no dia seguinte continuar. Adoro pilhas de trabalho, adoro estruturas, adoro regras, adoro ter o que resolver. Me sentar, com meus botões, e achar a solução. Me desesperar por que não vai dar certo e no fim conseguir! Odeio errar, mas adoro saber que errei por que estava lá fazendo. Adoro papéis, adoro me indignar, adoro organizar. No meio disso tudo, respirar fundo e pensar no que há de bom lá fora. Reclamar da segunda, esperar o feriado, suspirar pelo dia que não passa. Ter o meu tempo, o meu lugar, o que é só meu, meu, que de dentro de mim, ninguém tira.
Ficar com raiva do chefe! Reclamar das condições de trabalho, reclamar do volume de trabalho, depois sentar lá toda faceira e me esbaldar. Chega, pára por hoje. Tô indo, tô indo!
Sexta-feira. Sim, hoje é sexta feira! E o que eu vou fazer no fim de semana? Correr atrás de tudo que não deu pra fazer durante a semana, dormir quase em estado de coma, reclamar que o fim de semana é curto e que amanhã começa tudo de novo. Que saudade.
Por isso eu invejo o emprego dos outros. Da recepcionista, da vendedora de sapato, do padeiro, do garçom, da moça do escritório, da secretária do médico, da atendente do plano de saúde. Eu olho e penso, eu poderia fazer isso, eu poderia estar ali! Eu só quero uma oportunidade. Oportunidade. Isso é tudo, tudo na vida de uma pessoa. E porque não me aparece um cristão com essa oportunidade. Oportunidade que me faria me sentir digna, útil, eficaz e não a ficar presa nessa neblina incerta, que não me deixa enxergar direito e me dá medo do caminho. Que me estagna e me impede de prosseguir, arriscar, conseguir.
Eu sou capaz? Sim, eu sou capaz. Minha cabeça torta me tira isso da mente, mas eu sou capaz. Talvez não de ser uma mega advogada de uma mega empresa, não neste momento. Talvez isso me pode tanto, porque é isso que esperam de mim, e mais uma vez entram aqui as pessoas. Mas eu sou capaz de trabalhar. E eu quero trabalhar. Mas não sei o caminho.

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