Dor abdominal, cabeça zuada, tristeza, desânimo profundo e
medo de expor minha bela figura para fora de casa. Isso por um acaso é um
diário de lamentações?
Lamentações de uma adolescente chata de 32 anos: levantar da
cama está sendo difícil, participar do dia-a-dia das pessoas está sendo
difícil, me sinto como uma grande almofada pesada, surrada e feia, ocupando
espaço no meio. Fosse uma poltrona bonita, leve e confortável, todos quereriam
sentar nela. Usá-la para decorar. Mas não. Está ali, sem serventia. Ainda ocupa
o espaço e incomoda a visão. Faça isso? Não consigo. Faça aquilo? Me dói.
“Óh céus, óh dia, óh azar!” Corre, corre! Vem vindo Das
Dores! Ocupa o seu dia, suga a sua alegria, te indigna com sua morosidade.
Mas por que então, Das Dores, você não muda? Me dói, me
consome, me faz correr o risco de ser feliz.....
Sempre defendi que a felicidade não é algo a que se busca,
nem um estado. Felicidade é estar longe da infelicidade. Felicidade está na
simplicidade, na leveza, no não se ligar demais. Felicidade são as pequenas
coisas e o saber aproveitá-las. Felicidade é poder se sentir, se viver, se
permitir, se abrir. Ver o que quase ninguém vê. Ouvir o que te faz feliz. Ser
feliz com o que só importa a você.
E a minha felicidade, cadê? Estou presa nessa densa bolha de
asperezas. De preocupações e pensamentos de gente ranzinza, gente cinza, gente
doente. Doente de feiúra dos sentimentos.
Mas eu cobiço, eu julgo e culpo. Só Deus sabe como eu julgo.
Como se estivesse em condições para tanto. Julgo a roupa, o comportamento, o
modo de falar. Julgo a pressa e a lerdeza, a austeridade e a displicência. A
falta de amor e o amor em excesso. A disciplina e a indisciplina. Julgo as
pessoas, julgo os lugares. Por isso estaria eu cinza, ranzinza e dentro dessa
bolha?
Queria eu morar em uma leve bolha de sabão, passeando com o
vento, cristalina, brilhante e colorida, até se perder estourando de forma
inaudível. Queria eu me livrar das cargas, dos julgamentos, das culpas e
cobranças. Me tornar essa pessoa leve, saudável, desligada e longe da
infelicidade, que eu sempre pintei.
O que me falta? Nada! Só falta eu. Cadê eu? Olha lá, voltamos
à adolescência de novo. Tipo assim, que saco mãe.
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